Como a Nanotecnologia Está Revolucionando o Tratamento do Câncer no Brasil e no Mundo

Inovações como NanoKnife, lipossomas e biossensores abrem caminho para diagnósticos mais precisos e terapias menos invasivas contra o câncer.

O avanço da nanotecnologia e de outras tecnologias emergentes está transformando a luta contra o câncer, uma das maiores causas de morte no Brasil e no mundo. Com 71.730 novos casos de câncer de próstata e 45.630 de câncer colorretal previstos para 2025, segundo o Ministério da Saúde, a detecção precoce e os tratamentos inovadores tornaram-se prioridades. Técnicas como a eletroporação irreversível (NanoKnife), lipossomas carregados com medicamentos e biossensores de grafeno estão revolucionando o diagnóstico e a terapia, oferecendo esperança a milhões de pacientes com abordagens mais eficazes e menos agressivas.

NanoKnife: Pulsos Elétricos Contra o Câncer de Próstata

No tratamento do câncer de próstata, o segundo mais comum entre homens brasileiros, a eletroporação irreversível (IRE), conhecida como NanoKnife, emerge como uma solução promissora. A técnica utiliza pulsos elétricos de alta voltagem para criar poros irreversíveis nas membranas das células tumorais, levando-as à morte sem o uso de calor ou frio. “Isso preserva estruturas críticas, como nervos responsáveis pela função erétil e urinária”, explica o urologista Fernando Almeida, da USP.

Aprovada pela FDA (EUA) e pela Anvisa, a NanoKnife já é usada em hospitais privados no Brasil, mas ainda não chegou ao SUS. Em um estudo de 2024 publicado no Journal of Urology, pacientes tratados com IRE mostraram taxas de controle tumoral comparáveis à cirurgia tradicional, com menos efeitos colaterais. Apesar do custo elevado — cerca de R$ 50 mil por procedimento —, a técnica sinaliza um futuro de intervenções minimamente invasivas.

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Nanotecnologia: Entrega Direta de Medicamentos

A nanotecnologia está redefinindo a quimioterapia. Na Universidade Federal do Ceará (UFC), pesquisadores desenvolveram lipossomas — nanocápsulas biodegradáveis — que transportam o medicamento anticâncer cabazitaxel diretamente às células tumorais. “Os lipossomas funcionam como mísseis guiados, liberando a droga apenas no alvo e poupando tecidos saudáveis”, diz a farmacêutica Ana Leite, líder do projeto. Testes em camundongos, publicados na Nanomedicine em 2024, indicaram uma redução de 70% nos efeitos colaterais em comparação com a quimioterapia convencional.

Essa precisão não só aumenta a eficácia como melhora a qualidade de vida dos pacientes, que sofrem menos com náuseas e queda de cabelo. O próximo passo, segundo a UFC, é escalar a produção para ensaios clínicos humanos, previstos para 2026, com apoio do CNPq.

Biossensores: Diagnóstico Precoce do Câncer Colorretal

Para o câncer colorretal, que matou mais de 20 mil brasileiros em 2023, a detecção precoce é um desafio. No Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN), em Minas Gerais, cientistas criaram biossensores baseados em grafeno que detectam o antígeno carcinoembriônico (CEA) no sangue ou na urina. “É uma alternativa à colonoscopia, mais acessível e menos invasiva”, afirma o físico João Paulo Campos, coautor do projeto.

Com sensibilidade para identificar o CEA em estágios iniciais, os biossensores podem ser integrados a exames de rotina. Um protótipo, testado em 2024 com 200 pacientes, alcançou 92% de precisão, segundo artigo no Biosensors and Bioelectronics. A meta é baratear o dispositivo para uso em larga escala no SUS, mas o custo atual — cerca de R$ 200 por teste — ainda é um obstáculo.

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Inteligência Artificial: Aliada na Precisão

A inteligência artificial (IA) complementa essas inovações ao acelerar diagnósticos e personalizar tratamentos. No Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, algoritmos de IA analisam biópsias e imagens de ressonância, identificando a agressividade de tumores em minutos. “A IA prevê respostas a terapias com base em dados clínicos, evitando tratamentos desnecessários”, explica a oncologista Mariana Laloni. Em um estudo de 2024, o sistema reduziu em 30% o tempo de análise de amostras, com acurácia superior a 95%.

Desafios e o Caminho Adiante

Apesar dos avanços, o acesso permanece limitado. “Temos tecnologias de ponta, mas elas estão concentradas em grandes centros e no setor privado”, alerta Laloni. A NanoKnife, por exemplo, não integra o SUS, enquanto os biossensores e lipossomas ainda estão em fase experimental. Parcerias como a da BrazilHealth com o Ministério da Saúde buscam mudar esse cenário, mas a falta de políticas públicas robustas e o alto custo dificultam a democratização.

Com o câncer matando mais de 200 mil brasileiros por ano, essas inovações são um sopro de esperança. A nanotecnologia, combinada com IA e técnicas como a IRE, aponta para um futuro onde o tratamento será mais preciso, menos invasivo e acessível — desde que o Brasil invista em infraestrutura e equidade para levar esses avanços a todos.


Texto baseado em dados do Ministério da Saúde e estudos científicos, e Isto É

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