Saúde

“Epidemia silenciosa”: a nova geração de viciados em nicotina que a lei não alcança

Na Irlanda, um vereador alerta que as novas leis para restringir os vapes chegam tarde demais e não resolvem o problema de fundo: uma legião de jovens que já se tornou dependente da nicotina.

Enquanto governos ao redor do mundo correm para regulamentar a explosão do uso de cigarros eletrônicos, um alerta vindo de uma pequena cidade na Irlanda joga luz sobre uma falha crítica nessas estratégias. Para o vereador Ciaran Fisher, da cidade de Dundalk, as novas leis que proíbem sabores infantis e restringem a publicidade de vapes, embora bem-vindas, “não vão longe o suficiente”. O motivo? Elas chegam tarde demais para conter o que ele chama de uma “epidemia silenciosa de vício em nicotina” que já se instalou em uma nova geração.

O debate irlandês serve como um espelho para a realidade de muitos países, incluindo o Brasil, onde o consumo de vapes entre jovens cresce de forma alarmante, muitas vezes à margem da lei. A preocupação do vereador não é apenas com o produto, mas com as consequências de longo prazo de uma dependência que começou com sabores de “chiclete” e “cola”.

A lei do ‘catch-up’: proibindo sabores, mas ignorando a dependência

A nova legislação irlandesa, prevista para o próximo ano, é um passo importante. Ela vai proibir os vapes descartáveis, limitar a concentração de nicotina, exigir avisos de saúde e banir a publicidade em locais frequentados por crianças. O principal alvo são os sabores adocicados e frutados, que tornaram o produto tão atraente para o público jovem.

No entanto, Fisher argumenta que essa é uma “legislação de ‘catch-up'”, ou seja, que está correndo atrás de um problema já consolidado. “Proibir sabores como chiclete e cola é uma medida sensata, um reconhecimento de que esses produtos foram claramente direcionados às crianças. O problema é que nós já temos uma nova geração viciada em nicotina“, alertou. “Estou preocupado que uma epidemia silenciosa esteja se desenrolando, com um fardo social e de saúde crescente devido à exposição precoce ao vício”.

A transformação da paisagem urbana: o boom das ‘vape shops’

Além da dependência química, o vereador aponta para uma consequência visível do fenômeno: a proliferação das “vape shops”. Segundo ele, o “afluxo de lojas de vapes teve um impacto notável na paisagem de nossas ruas principais”, muitas vezes com fachadas que não seguem as diretrizes urbanísticas locais.

Ele destaca um paradoxo na nova lei: enquanto a publicidade será banida em lojas de conveniência e mercados, as “vape shops” especializadas serão as únicas que poderão continuar a anunciar abertamente os produtos, o que pode incentivar ainda mais a sua concentração nos centros urbanos. Ele faz um apelo para que a população participe das discussões sobre o plano de desenvolvimento da cidade, para que a comunidade possa decidir como quer que suas ruas se pareçam no futuro.

O alerta vindo da Irlanda ecoa como um aviso para o Brasil. Enquanto o debate se concentra em proibir a venda, uma geração inteira já está exposta e, em muitos casos, dependente dos vapes. A questão que fica é: além de combater o produto, como as sociedades irão lidar com o custo humano de uma nova onda de vício em nicotina?

Traduzido e adaptado de independent.ie

Redação do Movimento PB [GMN-GOO-02092025-014210-A9B3C1-15P]


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