Saúde

Esperança na Ciência Brasileira: Proteína da Placenta Ajuda a Regenerar Lesões na Medula e Devolve Movimentos

Pesquisa de 25 anos da UFRJ mostra resultados inéditos em pacientes tetraplégicos e cães; novos testes clínicos aguardam autorização da Anvisa.

Uma pesquisa brasileira desenvolvida ao longo de 25 anos por cientistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) trouxe nesta terça-feira (9) um resultado que representa uma nova esperança para pacientes com lesão na medula espinhal. O tratamento experimental, baseado em uma proteína extraída da placenta, devolveu parte dos movimentos a cães e a humanos que tiveram lesões graves. Embora promissores, os resultados ainda dependem de novos testes clínicos para garantir a segurança e obter a autorização da Anvisa.

O estudo, liderado pela pesquisadora Tatiana Sampaio, descobriu uma forma de restabelecer a comunicação entre os neurônios que é interrompida após uma lesão na medula. A chave está em uma proteína chamada laminina, que é recriada em laboratório como polilaminina, a partir de placentas.

Para quem não é da área, podemos simplificar alguns termos…

Imagine uma ‘estrada’ de neurônios que vai do cérebro até o seu pé. Para mexer o dedão, um sinal elétrico viaja por essa estrada. Uma lesão na medula é como um desmoronamento que bloqueia completamente esse caminho. O sinal sai do cérebro, mas não consegue chegar ao destino. A polilaminina funciona como uma equipe de ‘engenheiros de tráfego’ injetada no local do ‘desmoronamento’. Ela ajuda o neurônio a construir um desvio ao redor da lesão para se reconectar com o outro lado da estrada, restabelecendo o fluxo do sinal elétrico e, consequentemente, o movimento.

A Jornada de Bruno: Do Dedo do Pé à Independência

O bancário Bruno Drummond de Freitas foi um dos primeiros a testar a terapia em humanos. Após um grave acidente de carro em 2018 que o deixou tetraplégico, ele recebeu uma única injeção da polilaminina no local da lesão. Duas semanas depois, um pequeno movimento no dedo do pé foi o primeiro sinal de sucesso. Hoje, a história é outra. “Consigo me movimentar inteiro, claro que com certas limitações. (…) Consigo levantar, consigo andar, dançar, voar. (…) Isso daqui, graças a Deus, me garantiu minha independência”, comemora Bruno, que hoje caminha e até salta.

Resultados Inéditos no Mundo

O neurocirurgião Marco Aurélio de Lima, que participou do estudo acadêmico com oito pacientes, classifica os resultados como um marco. “Isso é uma coisa inédita. Porque nenhum estudo no mundo com medicação atuando em regeneração medular que conseguiu isso”, afirma. Dos oito pacientes que receberam a injeção até 72 horas após o acidente, seis apresentaram recuperação motora em diferentes níveis. A artesã Nilma Palmeira de Melo, por exemplo, hoje consegue ficar em pé, algo que os médicos diziam ser impossível. Em 2021, a terapia também foi testada em cães com lesões mais antigas, e quatro de seis animais recuperaram movimentos.

O Longo Caminho até o Medicamento

Apesar do sucesso, o caminho para que a polilaminina se torne um medicamento disponível é longo e rigoroso. O registro da patente demorou 18 anos. Agora, uma empresa farmacêutica brasileira que transformou o experimento em um medicamento precisa da autorização da Anvisa para iniciar os testes clínicos formais em humanos. Claudiosvan Martins, da Anvisa, explica que a agência aguarda testes complementares de segurança, já que os primeiros foram em um contexto acadêmico, com poucos pacientes.

A Crônica de uma Alma

A pesquisa da UFRJ é um marco para a ciência brasileira, representando não apenas um farol de esperança para milhares de pacientes, mas também um testemunho do poder do investimento público e de longo prazo na pesquisa acadêmica. A jornada desde uma descoberta em laboratório, em 1999, até a recuperação de pacientes como Bruno, ilustra uma história de perseverança que merece tanto celebração quanto apoio contínuo.

Da redação com informações do Jornal Nacional

Redação do Movimento PB [NMG-OOG-09092025-S1T2U3-15P]


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