Saúde

Exame de sangue desenvolvido no Brasil detecta Alzheimer com 90% de precisão

Pesquisa liderada pela UFRGS pode permitir diagnóstico precoce e acessível da doença pelo SUS até 2028

Um grupo de pesquisadores brasileiros deu um passo histórico rumo ao diagnóstico acessível do Alzheimer. Um novo exame de sangue em fase de testes mostrou capacidade de detectar a doença com mais de 90% de precisão, segundo estudo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em parceria com as universidades de Pittsburgh (EUA) e de Gotemburgo (Suécia). Os resultados foram publicados na revista Molecular Psychiatry, do grupo Nature.

O objetivo da pesquisa é identificar biomarcadores que indiquem o funcionamento anormal do cérebro em estágios iniciais da doença. Após analisar dados de mais de 110 estudos envolvendo 30 mil pessoas, os cientistas afunilaram a busca a quatro proteínas principais: beta-amiloide 40 e 42, p-tau217, NfL (neurofilamento de cadeia leve) e GFAP (proteína ácida fibrilar glial).

Na segunda etapa, o grupo mediu os níveis dessas substâncias no sangue de 59 voluntários — 20 saudáveis, 22 com Alzheimer e 17 com demência vascular — e comparou com os resultados do exame de líquor, considerado o “padrão-ouro” pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A proteína p-tau217 se destacou, atingindo mais de 90% de acerto na detecção, o mesmo índice de confiabilidade exigido para o diagnóstico clínico tradicional.

“Quando pensamos num país como o Brasil, com 160 milhões de pessoas dependentes do SUS, realizar punções lombares em larga escala é inviável. Um exame de sangue simples pode mudar completamente esse cenário”, afirmou Eduardo Zimmer, professor da UFRGS e coordenador do estudo, em entrevista à Agência Brasil.

Hoje, o diagnóstico por biomarcadores é restrito à rede privada e pode custar até R$ 3,6 mil, valor cobrado por testes internacionais como o americano PrecivityAD2. A equipe brasileira, entretanto, quer mudar esse panorama com uma alternativa nacional, gratuita e integrada ao SUS.

O projeto faz parte da IB-BioNeuro (Iniciativa Brasileira de Biomarcadores para Doenças Neurodegenerativas), que reúne pesquisadores da UFRGS, UFPel, Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul e outras instituições, com apoio do Instituto Serrapilheira e colaboração técnica da empresa americana Quanterix.

A próxima fase da pesquisa vai envolver 3.000 participantes em 10 cidades do Rio Grande do Sul e deve durar dois anos. O objetivo é avaliar a precisão do exame em larga escala e verificar se ele pode identificar o Alzheimer antes dos sintomas. “Vamos começar com pessoas acima de 55 anos, para mapear a fase pré-clínica da doença e entender a prevalência”, explica Zimmer.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, cerca de 57 milhões de pessoas vivem com algum tipo de demência no mundo, sendo 60% delas com Alzheimer. No Brasil, o Relatório Nacional sobre Demência (2024) estima 1,8 milhão de casos — número que pode triplicar até 2050. O novo exame, se aprovado, pode ser um divisor de águas no diagnóstico precoce e na ampliação do tratamento via sistema público.

Da redação, com informações da Agência Brasil e da UFRGS.

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