Saúde

“Foi como renascer”: cirurgia inédita de estimulação cerebral profunda reacende esperança contra a depressão

Intervenção pioneira na Colômbia mira pacientes resistentes a tratamentos convencionais

A depressão, muitas vezes chamada de “mal do século”, permanece como um dos maiores desafios de saúde pública global. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 300 milhões de pessoas no mundo convivem com a doença, que afeta não apenas o humor, mas a capacidade funcional e a qualidade de vida. Os tratamentos tradicionais envolvem psicoterapia e medicamentos antidepressivos, podendo incluir terapias como a eletroconvulsiva em casos graves. No entanto, há pacientes que não apresentam melhora significativa com essas abordagens.

Foi pensando nesses casos resistentes que médicos na Colômbia realizaram, pela primeira vez, uma Cirurgia de Estimulação Cerebral Profunda (ECP) voltada ao tratamento da depressão severa. A intervenção, realizada no Hospital Internacional da Colômbia, em Bucaramanga, ocorreu em abril deste ano e marca um avanço significativo na busca por alternativas para pacientes sem resposta aos métodos convencionais.

O caso de Lorena Rodrigues

A paciente escolhida para o procedimento foi Lorena Rodrigues, de 34 anos, que enfrenta depressão severa e ansiedade desde a adolescência. Sob a liderança do neurocirurgião William Omar Contreras, a equipe implantou eletrodos em regiões específicas do cérebro responsáveis pela regulação do humor. O objetivo é modular a atividade cerebral por meio de impulsos elétricos precisos, oferecendo uma possibilidade de alívio duradouro para sintomas que resistem a outras terapias.

Lorena descreveu o pós-operatório como “um renascimento”, relatando melhora perceptível no estado de ânimo e na disposição para atividades cotidianas. Embora ainda seja cedo para conclusões definitivas, os primeiros sinais indicam que a ECP pode representar uma nova fronteira no combate à depressão.

Como funciona a estimulação cerebral profunda

A técnica da ECP já é utilizada no tratamento de outras condições neurológicas, como o Mal de Parkinson e distonias, mas sua aplicação na depressão é relativamente recente. O método consiste na implantação de eletrodos conectados a um gerador, semelhante a um marcapasso, capaz de enviar pulsos elétricos para áreas específicas do cérebro. A escolha dessas regiões é baseada em estudos de neuroimagem e no mapeamento individual de cada paciente.

O procedimento exige alta precisão e monitoramento contínuo, já que a regulação inadequada da estimulação pode gerar efeitos colaterais. Por isso, a indicação é restrita a casos graves e refratários, onde todos os recursos convencionais já foram esgotados.

Um futuro promissor, mas com cautela

Apesar do otimismo, a FDA — agência reguladora de medicamentos e alimentos dos Estados Unidos — ainda não aprovou oficialmente a ECP para depressão, mantendo-a no status de tratamento experimental. Isso significa que seu uso está restrito a protocolos clínicos e centros especializados, onde é possível coletar dados e monitorar resultados a longo prazo.

Para quem não é da área, podemos simplificar alguns termos técnicos: a estimulação cerebral profunda é, de forma bem direta, como instalar um “controle remoto” no cérebro para regular sinais elétricos que influenciam o humor. Diferente de medicamentos, que afetam o corpo inteiro, a ECP atua apenas no ponto exato que está causando o problema, como se um eletricista consertasse um fio defeituoso sem mexer na rede inteira.

Reflexão e impacto global

Se os resultados se confirmarem, a ECP poderá abrir um novo capítulo no tratamento da depressão resistente, impactando milhões de pessoas ao redor do mundo. Mas há desafios éticos, econômicos e logísticos: desde o custo elevado até a necessidade de profissionais altamente qualificados. Ainda assim, a experiência colombiana pode servir de exemplo e inspiração para outros países, inclusive o Brasil, onde a depressão também é uma questão de saúde pública urgente.

Traduzido e adaptado de Xataka

Redação do Movimento PB [PTG-OAI-15082025-4F9A2C-4OT]

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