Fungo mortal de “The Last of Us” pode se espalhar pelo mundo com o aquecimento global, alerta estudo

Pesquisa aponta que o Aspergillus, causador de infecções graves, terá alcance ampliado em um planeta mais quente
Um estudo recente da Universidade de Manchester lançou um alerta preocupante: fungos potencialmente letais, como o Aspergillus, devem se espalhar por novas regiões do planeta nas próximas décadas devido ao aquecimento global. A descoberta reforça que o mundo está despreparado para lidar com essa ameaça crescente, ainda pouco compreendida pela ciência.
O Aspergillus é um gênero de fungos comum no solo e no ar, cujos esporos são inalados diariamente por bilhões de pessoas. Em indivíduos saudáveis, o sistema imunológico normalmente elimina esses esporos sem maiores problemas. Mas em pessoas com doenças pulmonares, como asma, fibrose cística ou DPOC, ou com imunidade comprometida — como pacientes com câncer, transplantados ou vítimas de infecções graves como Covid-19 — o fungo pode desencadear a aspergilose, uma doença pulmonar severa com altas taxas de mortalidade, entre 20% e 40%.
Expansão fúngica impulsionada pelo clima
Utilizando simulações climáticas avançadas, os cientistas identificaram que o Aspergillus está se adaptando melhor a temperaturas mais elevadas. O estudo mostra que algumas espécies podem expandir sua presença em até 77,5% até o ano 2100, afetando especialmente regiões da América do Norte, Europa, China e Rússia. A queima contínua de combustíveis fósseis e o consequente aumento global das temperaturas favorecem esse avanço.
“Esses patógenos fúngicos impactarão a maioria das regiões do mundo no futuro”, disse Norman van Rijn, coautor da pesquisa. Ele destaca que, apesar do grande impacto dos fungos na saúde humana, ainda se conhece muito pouco sobre como eles irão se comportar num clima em mudança acelerada.
A situação é ainda mais preocupante por causa da resistência crescente aos tratamentos antifúngicos. Atualmente, existem apenas quatro classes principais de medicamentos disponíveis, e muitos tipos de Aspergillus já demonstram resistência a eles.
Mais visibilidade após “The Last of Us”
A ameaça dos fungos ganhou atenção popular com a série da HBO The Last of Us, que apresenta uma realidade apocalíptica onde um fungo mutante transforma humanos em criaturas violentas. Embora ficcional, a trama trouxe à tona debates reais sobre a vulnerabilidade humana diante de infecções fúngicas. O próprio van Rijn reconhece que a série ajudou a dar visibilidade a uma ameaça negligenciada.
Na vida real, fungos como o Aspergillus flavus — classificado pela Organização Mundial da Saúde como um “patógeno crítico” em 2022 — podem causar infecções graves e ainda prejudicar a produção agrícola, ameaçando a segurança alimentar global. Com temperaturas mais altas, esse tipo de fungo tende a migrar para o norte, inclusive em direção ao Ártico.
Desastres e surtos
Além da mudança climática, eventos extremos como secas, enchentes e tornados também contribuem para espalhar esporos de fungos por longas distâncias. Há registros de surtos de doenças fúngicas após desastres naturais, como o tornado de 2011 em Joplin, nos Estados Unidos.
Ainda assim, há uma grande escassez de dados sobre onde esses fungos estão presentes e quem está sendo infectado. Entre 2013 e 2023, uma pesquisa liderada pela Universidade da Califórnia em Berkeley identificou mais de 20 mil casos de aspergilose nos EUA, com um crescimento de 5% ao ano. Para os especialistas, esse número deve ser ainda maior, já que a doença é de difícil diagnóstico e muitas vezes confundida com outras infecções respiratórias.
“Qualquer um pode ser afetado”
“O público conhece bem os riscos de bactérias e vírus, mas doenças fúngicas seguem ignoradas, mesmo com altíssimas taxas de letalidade”, afirma Elaine Bignell, da Universidade de Exeter. Segundo ela, a sociedade precisa urgentemente reverter esse desconhecimento, pois “qualquer um de nós pode ser afetado no futuro”.
Com a intensificação das mudanças climáticas e a crescente resistência dos fungos aos medicamentos, o cenário se mostra cada vez mais desafiador — e ignorá-lo pode ter consequências letais.
Com informações da CNN Brasil.