Saúde

Hormônios: Os Maestros Invisíveis da Sua Mente

Hormônios: Os Maestros Invisíveis da Sua Mente
Hormônios: Os Maestros Invisíveis da Sua Mente

Todos nós gostamos de acreditar que somos os capitães de nossas emoções, navegando com total controle pelos mares do humor. Mas a ciência nos lembra que, muitas vezes, estamos à mercê de forças invisíveis que atuam em nosso próprio corpo: os hormônios.

O Poder Silencioso dos Mensageiros Químicos

Por décadas, soubemos que os neurotransmissores são peças-chave no funcionamento cerebral. Agora, pesquisadores aprofundam-se na compreensão de como os hormônios, esses mensageiros químicos liberados por glândulas e órgãos, também remodelam nossa mente de maneiras surpreendentes. Essa nova fronteira do conhecimento abre portas para tratamentos inovadores de condições como depressão e ansiedade.

Hormônios viajam pela corrente sanguínea e “se conectam” a receptores específicos, instruindo o corpo a agir. São mais de 50 identificados, gerenciando desde o crescimento e a reprodução até o ciclo de sono e, crucialmente, nosso bem-estar mental.

Mulheres: O Epicentro das Flutuações Hormonais

A relação entre hormônios e saúde mental é particularmente evidente durante as grandes transições hormonais, especialmente nas mulheres. Enquanto meninos e meninas apresentam índices similares de depressão na infância, na adolescência, a incidência em meninas dobra e permanece elevada ao longo da vida.

  • Ciclo Menstrual: As quedas de estrogênio e progesterona antes da menstruação podem desencadear irritabilidade, fadiga e ansiedade. Algumas chegam a desenvolver o Transtorno Disfórico Pré-Menstrual (TDPM), uma condição severa com intensas variações de humor e pensamentos suicidas.
  • Gravidez e Pós-parto: Até 13% das mulheres sofrem de depressão pós-parto, impulsionada por uma queda abrupta de progesterona e estrogênio logo após o parto.
  • Perimenopausa e Menopausa: As flutuações drásticas dos hormônios ovarianos nessas fases também impactam o humor. “Não é o nível exato de hormônios, mas as transições que importam”, explica a professora Liisa Galea, da Universidade de Toronto.

Enquanto altos níveis de estrogênio antes da ovulação são associados a sensações de bem-estar, a alopregnanolona, um derivado da progesterona, é conhecida por seus efeitos calmantes.

Os Homens Também Sentem

Embora de forma mais gradual, os homens também experimentam mudanças hormonais. A redução dos níveis de testosterona com o envelhecimento pode influenciar o humor, um tópico que, segundo especialistas, recebe pouca atenção.

Como os Hormônios Mexem com o Cérebro

A influência hormonal no humor se dá por diversas vias:

  • Neurotransmissores: Hormônios sexuais podem elevar os níveis de serotonina e dopamina. O estrogênio, por exemplo, pode tornar os receptores de serotonina mais reativos e aumentar os receptores de dopamina, substâncias cruciais para o humor.
  • Neuroproteção: O estrogênio atua protegendo neurônios e estimulando o crescimento de novos no hipocampo, uma região vital para memória e emoções. Na depressão e no Alzheimer, há perda de neurônios no hipocampo. Antidepressivos e até psicodélicos promovem a neurogênese nessa área.

Estresse Crônico e o Eixo HPA

Quando a reação ao estresse sai do controle, o eixo Hipotálamo-Pituitária-Adrenal (HPA) pode causar estragos. Em situações de ansiedade, o corpo libera cortisol, o hormônio do estresse. Embora útil a curto prazo, o estresse crônico (por bullying, abuso) inunda o cérebro com cortisol. Isso inflama o cérebro, matando neurônios no hipocampo e danificando a amígdala (controle emocional) e o córtex pré-frontal (concentração, decisão).

Em contraste, a oxitocina, o “hormônio do amor”, promove sentimentos de conexão e segurança, ajudando a combater os efeitos do estresse e a reduzir os níveis de cortisol.

Tireoide e o Equilíbrio do Humor

Um desequilíbrio nos hormônios T3 e T4 da tireoide é uma causa comum de depressão e ansiedade. Níveis altos podem gerar ansiedade, enquanto níveis baixos, depressão. A correção hormonal costuma aliviar esses sintomas, possivelmente pela influência da T3 na serotonina e dopamina.

Novos Horizontes de Tratamento

O aprofundamento nesse conhecimento hormonal já gera resultados. A brexanolona, que imita a alopregnanolona, é eficaz contra a depressão pós-parto. Suplementos de testosterona podem potencializar antidepressivos em homens com baixos níveis. A terapia de reposição hormonal (TRH) com estrogênio ajuda algumas mulheres na menopausa.

Contudo, a complexidade é um desafio. O controle hormonal da natalidade, por exemplo, pode ser um alívio para algumas mulheres com TDPM, mas agravar os sintomas em outras. “Precisamos entender como os hormônios atuam antes de criar tratamentos adequados”, ressalta Nafissa Ismail. A busca por terapias mais eficazes, especialmente para adolescentes onde os atuais antidepressivos mostram menor sucesso, exige uma compreensão mais profunda do desenvolvimento cerebral e suas interações hormonais.

Da redação do Movimento PB.

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