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IA revoluciona diagnóstico precoce do Alzheimer e pode acelerar novos tratamentos

Ferramenta britânica identifica pacientes com maior risco de progressão da doença e amplia eficácia de medicamentos em fase inicial

Um novo modelo de inteligência artificial desenvolvido pela Universidade de Cambridge, no Reino Unido, está transformando a forma como a medicina encara o Alzheimer em seus estágios iniciais. A ferramenta consegue prever, com precisão, quais pacientes com comprometimento cognitivo leve têm maior risco de desenvolver a doença, permitindo tratamentos mais eficazes e personalizados.

Publicada na revista científica Nature, a pesquisa indica que a IA pode reduzir significativamente o custo e a duração de ensaios clínicos, ao direcionar os testes apenas para pessoas com maior probabilidade de resposta ao tratamento. Isso representa uma virada na corrida global contra a demência, condição que deve triplicar até 2050 e já custa mais de R$ 7 trilhões anuais ao planeta.

Descoberta emergiu da reanálise de estudo anterior

O modelo de IA foi testado a partir de dados de um ensaio clínico previamente encerrado, que investigava um medicamento contra o Alzheimer. Na avaliação original, o fármaco não demonstrava efeito significativo sobre a população geral. No entanto, ao reprocessar os dados com IA, os cientistas identificaram dois subgrupos: pacientes com progressão lenta e rápida da doença.

Entre os pacientes com progressão lenta, o remédio conseguiu retardar o declínio cognitivo em 46%, um resultado oculto pela análise convencional. A estratificação promovida pela IA revelou que o medicamento tinha, sim, eficácia — mas apenas para um perfil específico de paciente, o que havia passado despercebido.

Precisão acima dos métodos tradicionais

Segundo os pesquisadores, o modelo é três vezes mais preciso que os métodos clínicos tradicionais, como testes de memória, exames de sangue e ressonância magnética. “Estamos conectando os pacientes certos aos medicamentos certos”, declarou a professora Zoe Kourtzi, principal autora do estudo.

Ela enfatizou a importância de não esperar o estágio avançado da doença para intervir. “Novos medicamentos promissores falham quando são administrados tarde demais. Nossa IA oferece um caminho para aplicar esses tratamentos enquanto ainda podem fazer efeito”, afirmou.

Impacto imediato no sistema de saúde

A tecnologia não está restrita aos laboratórios: já começou a ser testada na prática pelo sistema público de saúde britânico (NHS), através da Health Innovation East England. A instituição afirma que a IA pode reduzir custos e otimizar recursos, ao priorizar pacientes com real potencial de resposta aos medicamentos.

“Essa ferramenta pode diminuir a pressão sobre os serviços públicos e garantir acesso mais rápido aos tratamentos”, avaliou Joanna Dempsey, consultora de inovação da NHS.

Fracassos acumulados e urgência global

Apesar de bilhões investidos, o desenvolvimento de medicamentos contra Alzheimer amarga uma taxa de falha superior a 95%. Apenas nos últimos 30 anos, mais de R$ 240 bilhões foram gastos em pesquisa, com poucos avanços concretos. Medicamentos aprovados nos Estados Unidos continuam sob debate, por apresentarem efeitos colaterais e baixa relação custo-benefício.

“Como muitos, assisti impotente enquanto a demência roubava alguém que eu amava”, desabafou Kourtzi. “Não podemos esperar mais 30 anos. A IA pode ser o farol que nos guie até os pacientes certos e ajude a virar o jogo contra essas doenças cruéis.”

Uma esperança realista

Atualmente, nenhum medicamento é capaz de curar o Alzheimer. O foco dos tratamentos está em retardar a progressão da doença e preservar a qualidade de vida por mais tempo. Com a ajuda da inteligência artificial, essa meta ganha um novo fôlego e pode deixar de ser apenas uma promessa científica para se tornar parte da rotina clínica em países como o Brasil.

Com informações de G1

[CPT-OAI-19072025-1241-4O]

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