Inovação no SUS: Dentista cria abridor de boca inédito para pessoas com deficiência após acidente com paciente
Nascido de uma emergência em um hospital público do DF, equipamento de silicone criado pela cirurgiã-dentista Andréia Aquino ganha o mundo e inspira cuidados mais humanizados.
Uma emergência angustiante durante um atendimento de rotina foi o estopim para uma das inovações mais importantes dos últimos anos na odontologia inclusiva brasileira. A cirurgiã-dentista Andréia Aquino, que atua no Hospital Regional de Taguatinga (HRT), no Distrito Federal, atendia um paciente adulto com Transtorno do Espectro Autista (TEA) quando o abridor de boca convencional, feito de madeira, quebrou-se com a força da mordida, lançando farpas na boca do paciente. O incidente, que foi resolvido sem maiores complicações, deixou uma marca profunda na profissional: era preciso criar uma solução mais segura e digna.
“Isso já me angustiava. Eu pensava: ‘não está certo’. Tem que haver algum produto que seja, ao mesmo tempo, seguro e confortável para esses pacientes e profissionais”, relembra Andréia. Ao pesquisar o mercado, ela encontrou um enorme vácuo de produtos odontológicos dedicados a pessoas com deficiência. A solução foi arregaçar as mangas e, após cinco anos de pesquisa e desenvolvimento em parceria com uma empresa nacional, criar do zero um equipamento inédito: um abridor de boca feito de silicone, resistente, seguro e reutilizável.
A invenção, nascida de uma necessidade real dentro do Sistema Único de Saúde (SUS), rapidamente ultrapassou as fronteiras do hospital. Hoje, o equipamento é utilizado por profissionais em outros países, como na Bolívia, além de ser usado em atendimentos de odontopediatria e até mesmo em Unidades de Terapia Intensiva (UTI). A inovação também chegou às casas dos pacientes. O abridor facilitou imensamente a higienização oral de idosos com Parkinson e outras condições, dando mais segurança e autonomia para familiares e cuidadores.
A história de Andréia Aquino é um exemplo poderoso de como o sistema público de saúde pode ser um campo fértil para a inovação. “Não tem nada mais gratificante do que assistir a mudança de comportamento do paciente; ver aquele brilho surgindo dos olhos da família quando passa a acreditar que pode e vai dar conta dos cuidados”, revela a dentista.
Cuidando de quem cuida
Movida pela sua experiência diária, a dedicação de Andréia não parou no abridor de boca. Ao perceber a sobrecarga emocional e física dos familiares, especialmente das mães de seus pacientes, ela criou outro projeto inspirador: uma terapia comunitária para “mães atípicas”. Os encontros mensais, oferecidos por voluntários, criam uma rede de apoio e troca de experiências. A iniciativa reflete um olhar de cuidado integral, que entende a importância de “cuidar de quem cuida”.
Neste mês, em alusão ao Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência (21 de setembro), os encontros focam nos direitos desse público, reforçando a conscientização e a busca por inclusão. Para Andréia, que atua há 31 anos na rede pública, tudo se conecta com sua formação e gratidão ao SUS.
“Acho que tudo o que eu sou enquanto profissional, eu aprendi graças ao SUS, com as equipes e os profissionais com quem trabalhei e com os pacientes que encontrei. Foi onde eu aprendi, onde ganhei experiência. Talvez, agora, eu possa retribuir um pouco do que ele me deu”, finaliza.
Da redação com informações da Agência Saúde DF
Redação do Movimento PB [NMG-OGO-23092025-R5S1T9-15P]
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