Microsoft lança Dragon Copilot: assistente de IA por voz promete revolucionar a rotina médica


Ferramenta integra tecnologias de ditado e documentação automática para reduzir burocracia e priorizar o atendimento ao paciente.


A Microsoft anunciou nesta segunda-feira (03) o Dragon Copilot, um assistente de inteligência artificial por voz projetado para transformar a rotina de médicos e profissionais de saúde. A ferramenta, que chega ao mercado em maio, promete reduzir drasticamente o tempo gasto com tarefas administrativas — hoje estimado em 28 horas semanais por médico — e redirecionar o foco para o que mais importa: o paciente.


O problema: burocracia que consome tempo e energia

Um estudo de outubro de 2023 do Google Cloud revelou que 62% do tempo dos médicos é dedicado a preencher formulários, atualizar prontuários eletrônicos e redigir encaminhamentos. Essa carga contribui para o esgotamento profissional, com 1 em cada 3 médicos relatando sintomas de burnout, segundo a Associação Médica Americana.

“Os profissionais de saúde estão exaustos. Eles entram na medicina para cuidar de pessoas, não para digitar dados em computadores”, afirma Dr. David Rhew, diretor médico global da Microsoft, em entrevista exclusiva.


A solução: como o Dragon Copilot funciona

O Dragon Copilot combina duas tecnologias já consolidadas da Microsoft:

  1. Dragon Medical One: sistema de ditado por voz usado por mais de 550 mil médicos globalmente.
  2. DAX Copilot: IA de “escuta ambiental” que transcreve conversas e gera relatórios automáticos.

Funcionalidades-chave:

  • Documentação em tempo real: Durante uma consulta, o assistente grava a conversa (com consentimento do paciente) e produz automaticamente um resumo com diagnósticos, prescrições e encaminhamentos.
  • Busca por voz: Médicos podem perguntar: “Qual foi o último nível de glicemia do paciente?” ou “Sugira tratamentos para insuficiência cardíaca”, e receber respostas baseadas no prontuário eletrônico.
  • Integração universal: Funciona em qualquer dispositivo (celular, desktop, navegador) e se conecta a sistemas como Epic e Cerner, líderes em prontuários digitais.
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Exemplo prático:
Em um cenário de emergência, um médico pode ditar: “Paciente de 45 anos, dor torácica aguda, pressão 150×90, histórico familiar de infarto”. Em segundos, o Copilot organiza os dados, sugere exames e prepara uma nota para o cardiologista.


Opiniões de especialistas: esperança e cautela

Para Dra. Carla Mendes, clínica geral em São Paulo, a ferramenta é “um alívio para a profissão”, mas ela ressalva:
— A precisão da IA precisa ser absoluta. Um erro de dosagem ou diagnóstico teria consequências graves.

A Microsoft garante que o sistema passou por testes rigorosos em hospitais parceiros, com taxa de acerto de 98,7% em transcrições. Além disso, todos os relatórios são revisados pelo médico antes de serem arquivados.

Ricardo Torres, analista da consultoria Gartner, vê desafios:
— A adoção depende de treinamento e adaptação cultural. Muitos profissionais mais velhos ainda preferem métodos tradicionais.


Lançamento e custos

O Dragon Copilot chegará primeiro aos EUA e Canadá em maio, com planos de expansão para Holanda, França, Alemanha e Reino Unido até o fim de 2024. A Microsoft não divulgou preços, mas adianta que o modelo terá assinatura mensal por usuário, com descontos para redes hospitalares.

“Queremos que seja acessível. Um médico independente pagará proporcionalmente ao uso”, explica Peter Lee, vice-presidente de IA da Microsoft.


O contexto: a corrida da IA na saúde

A aposta no Dragon Copilot reflete a estratégia da Microsoft para dominar o mercado de saúde digital, que deve movimentar US$ 150 bilhões até 2030, segundo a McKinsey. Desde 2021, quando adquiriu a Nuance Communications (empresa por trás do Dragon Medical) por US$ 16 bilhões, a empresa acelerou projetos como:

  • InnerEye: IA para análise de imagens de raio-X e ressonância.
  • Azure AI for Health: plataforma de pesquisa médica com algoritmos de previsão de doenças.
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A concorrência, porém, é acirrada. Google (Med-PaLM) e Amazon (AWS HealthScribe) também desenvolvem assistentes médicos baseados em voz.


Conclusão: um futuro mais humano?

Se cumprir suas promessas, o Dragon Copilot pode não só reduzir o estresse dos médicos, mas também melhorar a qualidade do atendimento. “Menos tempo no computador significa mais contato visual, mais empatia”, defende Dr. Rhew.

Ainda assim, questões como privacidade de dados (a Microsoft garante conformidade com a HIPAA, lei americana de proteção médica) e equidade (como levar a tecnologia a regiões pobres?) permanecem em aberto. Enquanto isso, a revolução da IA na saúde já começou — e seu próximo capítulo será escrito a muitas mãos, humanas e digitais.


Reportagem publicada originalmente em Portal Terra e adaptada pela nossa redação.
Imagem em destaque: Ilustração conceitual feita por AI

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