Óleo comum no Brasil é associado a câncer agressivo de mama, revela estudo internacional


Pesquisa identifica ligação entre ácido linoleico, presente em óleos vegetais como o de soja, e crescimento de tumores do tipo triplo negativo

Um estudo liderado por pesquisadores da Weill Cornell Medicine, nos Estados Unidos, e publicado na última semana na revista científica Science, aponta que o ácido linoleico — uma gordura ômega-6 presente em óleos vegetais amplamente utilizados no Brasil, como o de soja e de cártamo — está ligado ao crescimento de um tipo agressivo de câncer de mama, conhecido como triplo negativo.

O achado, embora ainda em fase pré-clínica, acende um alerta para o consumo excessivo de certos óleos e reforça a importância de uma dieta equilibrada como ferramenta preventiva contra doenças graves.


O que é o câncer de mama triplo negativo

Esse subtipo de câncer representa cerca de 10% a 15% dos casos da doença e é considerado mais difícil de tratar por não responder a terapias hormonais nem a tratamentos que atuam sobre o receptor HER2. Segundo os pesquisadores, o ácido linoleico ativa a via mTORC1, fundamental para o crescimento celular, mas essa ativação só ocorre em células do tipo triplo negativo devido à presença elevada de uma proteína chamada FABP5.


Como o estudo foi conduzido

  • Os testes foram realizados em culturas de células e em camundongos com câncer de mama triplo negativo.
  • Animais alimentados com dietas ricas em ácido linoleico apresentaram:
    • Níveis elevados de FABP5
    • Maior atividade da via mTORC1
    • Crescimento acelerado dos tumores
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Além disso, amostras de sangue e tecido de pacientes humanas recém-diagnosticadas com esse tipo de câncer também revelaram níveis altos da gordura e da proteína associada ao crescimento do tumor.


Novas possibilidades de prevenção e tratamento

Segundo o Dr. John Blenis, autor sênior do estudo, a descoberta permite pensar em abordagens mais personalizadas para pacientes com maior risco:

“Essa descoberta ajuda a esclarecer a relação entre gorduras da dieta e o câncer, além de indicar como definir quais pacientes podem se beneficiar de recomendações nutricionais específicas.”

A proteína FABP5 pode, inclusive, se tornar um biomarcador útil para futuras terapias ou orientações dietéticas.


Outros impactos e possíveis implicações

A pesquisa também identificou que a mesma via FABP5-mTORC1 está ativa em certos subtipos de câncer de próstata, o que amplia a preocupação sobre o consumo excessivo do ácido linoleico. Os pesquisadores investigam, ainda, ligações com doenças crônicas como obesidade e diabetes, mas esses dados ainda são preliminares.


Especialistas pedem cautela e equilíbrio

Apesar dos resultados, especialistas alertam que os dados não devem ser motivo de pânico. Em artigo no portal The Conversation, o professor Justin Stebbing, da Universidade Anglia Ruskin, pondera:

“O estudo não prova que óleos de cozinha causam câncer. A relação é complexa, e fatores como genética, estilo de vida e meio ambiente são determinantes.”

Stebbing ressalta que a exclusão completa dos óleos de sementes não é recomendada, mas sim o consumo moderado e consciente, dando preferência a opções como o azeite de oliva, que possui menor teor de ácido linoleico.

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Dieta equilibrada ainda é a melhor estratégia

Os autores e especialistas concordam que a melhor prevenção continua sendo a alimentação balanceada, rica em frutas, vegetais e fontes de gorduras saudáveis. O estudo oferece avanços relevantes na compreensão do papel da nutrição no desenvolvimento do câncer, mas ainda é uma peça de um quebra-cabeça maior.


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