Projeto nacional cria app com IA para tratar transtornos mentais no SUS
Iniciativa do CISM receberá R$ 12 milhões e promete integrar pacientes, profissionais e gestores em uma única plataforma
O CISM (Centro de Pesquisa e Inovação em Saúde Mental), em parceria com o Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP e a FAPESP, anunciou o desenvolvimento do projeto “e-Saúde Mental no SUS”, uma plataforma digital com aplicativo móvel e módulos de inteligência artificial destinados ao diagnóstico, tratamento e monitoramento de transtornos mentais na atenção primária do Sistema Único de Saúde.
O projeto foi selecionado no âmbito do PDIL (Programa de Desenvolvimento e Inovação Local) do Ministério da Saúde e receberá aproximadamente R$ 12 milhões de investimento para sua implementação. A coordenação técnica ficará sob responsabilidade do CISM, com o professor Paulo Rossi Menezes como responsável científico pela iniciativa.
Segundo os idealizadores, a plataforma reunirá funcionalidades para três níveis de uso: pacientes, profissionais da Atenção Primária e gestores do SUS. Entre os recursos previstos estão o Check-in Digital para cadastro e protocolo de tratamento, questionários validados para avaliação de sintomas (insônia, ansiedade, depressão), identificação de risco com alertas automatizados e integração com o prontuário eletrônico do paciente.
O sistema também oferecerá psicoeducação, técnicas autoaplicáveis de regulação emocional e módulos de ativação comportamental para dar suporte a intervenções com evidência científica. Haverá, ainda, algoritmos que orientam profissionais sobre diagnósticos prováveis e condutas recomendadas, incluindo indicações para terapias farmacológicas, psicoterapias ou encaminhamento para serviços especializados.
Do ponto de vista da gestão pública, o e-Saúde Mental no SUS permitirá a análise agregada de dados para identificar padrões regionais, tendências epidemiológicas e demandas específicas por território, auxiliando no planejamento de serviços e na priorização de recursos.
O desenvolvimento ficará a cargo do CISM em colaboração com o Instituto de Pesquisas Eldorado, de Campinas, e o cronograma prevê cerca de 18 meses até a entrega da primeira versão. A transferência de tecnologia incluirá capacitação de profissionais do SUS, cursos de treinamento, manuais operacionais e suporte técnico contínuo para uso autônomo da ferramenta.
Um ponto destacado pelos coordenadores é o compromisso com a evidência: as intervenções digitais serão validadas por meio de ensaios clínicos randomizados e estudos de efetividade, buscando reduzir o tempo entre o surgimento de sintomas, o diagnóstico e o início do tratamento.
Para quem não é íntimo com o tema, podemos entender melhor alguns termos e expressões: algoritmo é uma sequência de instruções que orienta decisões automatizadas; prontuário eletrônico é o registro digital da saúde do paciente que guarda histórico, medicações e resultados; triagem digital indica um processo inicial de avaliação por meio de questionários que sinalizam riscos e priorizam atendimentos; e ensaios clínicos randomizados são estudos científicos que comparam intervenções em grupos aleatoriamente designados para comprovar eficácia.
Especialistas consultados ressaltam benefícios potenciais como o aumento das taxas de identificação precoce, maior aderência ao tratamento e maior alcance de atendimento em áreas remotas. Porém, também apontam desafios: a necessidade de proteger dados sensíveis, evitar vieses nos algoritmos, assegurar conectividade nas regiões menos cobertas e capacitar equipes para integrar tecnologia ao fluxo clínico sem substituir o cuidado humano.
Há ainda questões regulatórias e éticas a considerar — privacidade, consentimento informado, governança dos dados e transparência dos modelos preditivos — que deverão ser enfrentadas durante a implementação e no processo de consulta com profissionais e usuários do SUS.
Em termos práticos, o projeto propõe impactos mensuráveis: diminuir o tempo médio entre relato de sintomas e início do tratamento, aumentar a taxa de detecção de transtornos comuns na atenção primária e oferecer dados para que gestores planejem ações específicas por região.
Conclusão: o e-Saúde Mental no SUS representa uma aposta significativa em tecnologia aplicada à saúde pública brasileira. Se bem implementado, com governança rigorosa e validação científica, pode ampliar o acesso e a qualidade do cuidado em saúde mental no país. Mas seu sucesso dependerá tanto da robustez técnica quanto do compromisso em preservar direitos dos pacientes, capacitar profissionais e integrar a inovação ao desenho do SUS, sem reduzir a clínica à mera soma de dados.
Da redação com informações da Agência FAPESP
Redação do Movimento PB [P5GT-OAI-18082025-B7C3D1-P5GT]