Saúde

Uma revolução contra a insônia: Anvisa aprova lemborexante, remédio com novo mecanismo de ação e menor risco de dependência

Considerado o melhor do mundo em estudo de Oxford, medicamento Dayvigo atua bloqueando os sinais que nos mantêm acordados, oferecendo uma esperança mais segura para milhões de brasileiros que sofrem com noites em claro.

Uma notícia aguardada por milhões de brasileiros que travam uma batalha diária contra a insônia finalmente chegou. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o registro do lemborexante, um medicamento revolucionário que promete transformar o tratamento dos distúrbios do sono no país. Vendido sob o nome comercial Dayvigo, pela farmacêutica japonesa Eisai, o remédio se destaca por um mecanismo de ação completamente novo e, o mais importante, por apresentar um potencial de dependência significativamente menor do que os tratamentos tradicionais.

O otimismo em torno da nova droga não é infundado. Em um abrangente estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de Oxford e publicado na prestigiada revista científica The Lancet, o lemborexante foi eleito o medicamento com o melhor perfil de eficácia, aceitabilidade e tolerabilidade entre 36 opções avaliadas. A aprovação da Anvisa, portanto, coloca o Brasil no mapa dos tratamentos de ponta para um problema que afeta a qualidade de vida de uma parcela enorme da população.

Dados do Instituto do Sono revelam um cenário alarmante: duas a cada três pessoas no país relatam alguma dificuldade para dormir, e cerca de 15% da população, ou mais de 30 milhões de brasileiros, possuem um diagnóstico formal de insônia crônica. Nesse contexto, a busca por soluções farmacológicas disparou. Em 2024, foram vendidas quase 16 milhões de caixas de zolpidem, um número três vezes maior do que o registrado há uma década, evidenciando uma crise de saúde pública e o risco de uma epidemia de dependência.

Para quem não é da área, podemos simplificar alguns termos…

A grande inovação do lemborexante (Dayvigo) está em como ele atua no cérebro. Os remédios mais antigos, como os benzodiazepínicos (Clonazepam, Diazepam) e as “drogas Z” (Zolpidem, Eszopiclona), funcionam como um “sedativo geral”, diminuindo a atividade de todo o sistema nervoso central para forçar o sono. Já o lemborexante é um antagonista do receptor de orexina. A orexina é um neurotransmissor que funciona como o “interruptor” que nos mantém acordados e alertas. Ao invés de “desmaiar” o cérebro, o novo medicamento age de forma mais inteligente: ele simplesmente “desliga o interruptor da vigília”, bloqueando a ação da orexina e permitindo que o processo natural do sono aconteça de forma mais fisiológica e com menos efeitos colaterais.

Uma alternativa mais segura, mas não uma pílula mágica

Os tratamentos convencionais, embora eficazes para muitos, carregam um histórico de efeitos adversos graves. A dependência química e psicológica, a necessidade de doses cada vez maiores (tolerância), o déficit cognitivo no dia seguinte, a amnésia e até mesmo episódios perigosos de sonambulismo são riscos bem documentados, especialmente com o uso prolongado ou combinado com álcool. Os estudos clínicos com o lemborexante, por outro lado, demonstraram um risco muito menor de dependência e efeitos colaterais mais brandos, preenchendo uma lacuna terapêutica crucial no Brasil.

A dose recomendada pela Anvisa é de 5 mg, administrada uma única vez à noite, poucos minutos antes de deitar, sendo crucial garantir um intervalo mínimo de 7 horas antes do horário previsto para acordar. Apesar do avanço que o Dayvigo representa, especialistas são unânimes em reforçar que nenhum medicamento deve ser a primeira opção. O padrão-ouro para o tratamento da insônia crônica continua sendo a Terapia Cognitivo-Comportamental para Insônia (TCC-I), uma abordagem não medicamentosa que reeduca o cérebro e o corpo a dormir bem através da mudança de hábitos e pensamentos disfuncionais.

A chegada do lemborexante é, sem dúvida, um marco de esperança. Oferece uma ferramenta poderosa e mais segura para ser usada sob estrito acompanhamento médico, especialmente para aqueles casos mais resistentes ou quando a TCC-I não é suficiente ou acessível. A aprovação da Anvisa não é um convite à automedicação, mas sim o reconhecimento de que a ciência pode oferecer caminhos mais seguros para que milhões de brasileiros possam, finalmente, redescobrir o prazer de uma noite de sono verdadeiramente reparadora.

Com informações da Revista Exame e The Lancet

Redação do Movimento PB [NMG-OGO-18092025-J4K8L2-13P]