A expansão da monocultura de soja no Rio Grande do Sul tem sido apontada como um fator agravante para as frequentes cheias na região. Segundo dados do MapBiomas, a vegetação nativa dos Pampas foi reduzida em 22% em 2022 devido ao aumento do cultivo de soja, o que tem impactado negativamente os processos hídricos naturais do estado.
Paulo Niederle, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), destaca que a expansão da soja tem ocupado áreas tradicionalmente alagadas, onde a vegetação nativa ajudava a reter a água. “Embora a soja seja um plantio direto, com cobertura de palha no solo, ela não possui a mesma capacidade de retenção de água que a vegetação nativa,” explica Niederle. Ele ressalta que o desmatamento em encostas e áreas próximas aos rios são os principais contribuidores para as inundações. “O desmonte de morros para a plantação de soja promove o alagamento, inclusive da própria produção agrícola,” diz.
Os Pampas, o único bioma do Rio Grande do Sul, sofreu uma perda de 24,3% de sua vegetação desde 1985. A área ocupada pela soja aumentou significativamente, de 4,99 milhões de hectares em 1985 para 6,3 milhões de hectares em 2022. Este aumento está diretamente relacionado às frequentes enchentes na região.
Patrícia Eichler-Barker, doutora em biologia e oceanografia, afirma que a substituição da vegetação nativa pela soja prejudica o ciclo hidrológico da região. “A vegetação nativa regula os ciclos hidrológicos que umedecem o solo e recarregam os aquíferos. A soja, por sua vez, aumenta o escoamento superficial e diminui a infiltração de água no solo,” observa Eichler-Barker. Ela acrescenta que a monocultura de soja, milho e arroz, em expansão no Brasil, contribui para a crise climática e resulta na perda da biodiversidade, levando à extinção de espécies e à erosão do solo.
Atualmente, o Brasil é responsável por quase 50% da produção mundial de soja, com 154,5 milhões de toneladas produzidas, em um total mundial de 369 milhões de toneladas. A substituição do solo nativo pela soja também pode resultar em sérias consequências ambientais, como a perda da biodiversidade e a alteração dos ciclos ecológicos da vegetação.
Fonte: criado com base em dados do Correio Brasilense