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Brasil é uma ‘encrenca’ e quem tem poder às vezes não faz a coisa certa pelo País, diz Haddad

O Ministro da Fazenda repreende empresários e políticos que ignoram o interesse público; ele também ressalta a ausência de diálogo em Brasília e a defensiva permanente: “Se não há diálogo, resta-nos a defesa”.

BRASÍLIA – Após uma derrota significativa no Congresso Nacional e enfrentando críticas de setores produtivos, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, descreveu o Brasil como um “problema” e uma “questão difícil de gerir”. De acordo com o líder da equipe econômica, nem sempre as figuras públicas em posições de poder, como políticos e grandes empresários, agem corretamente em prol do país.

“É triste quando aqueles em posições de poder não agem pelo bem do país. Isso é o mais lamentável na vida pública”, afirmou o ministro em um evento do Instituto Conhecimento Liberta (ICL), em São Paulo. “Nem sempre quem tem a capacidade de fazer a diferença pensa no interesse público, o que deveria ser uma prioridade, seja por estar em uma posição de poder, ser um grande empresário ou um político eleito.”

O ministro questionou: “essas pessoas não estão pensando no País?”. Para ele, essa é a coisa mais difícil de se lidar na vida pública. Durante a fala, Haddad foi interrompido por gritos de “Fora, Lira”, que vinham da plateia e faziam referência ao presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL).

Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, definiu o Brasil como uma ‘encrenca’ e um ‘negócio difícil de administrar’.  Foto: WILTON JUNIOR/Estadão

O ministro também se ressentiu do que considerou ser uma falta de diálogo no dia a dia da capital federal. “Quando a gente vai para Brasília, a gente não dialoga com o serviço público, propriamente dito. A gente vai lá se defender do que está acontecendo”, afirmou.

“A todo momento, você fica apreensivo: que lei vão aprovar? O que vão fazer? Que maluquice é essa? O que estão falando? Por que não se dedicam a coisas sérias, que vão mudar a vida das pessoas? Para que essa espuma toda para criar cizânia na sociedade e briga na família?”, questionou Haddad.

Esta semana, o ministro enfrentou sua derrota mais severa no Congresso, em meio a uma crescente desconfiança fiscal e deterioração dos preços dos ativos financeiros. Na terça-feira, 11, o presidente do Congresso Nacional, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), rejeitou a maior parte da medida provisória que restringia a compensação de créditos do PIS/Cofins, afetando principalmente o agronegócio e os exportadores.

A medida, destinada a compensar a desoneração da folha de pagamento dos 17 setores que mais empregam no país e dos municípios, provocou descontentamento entre líderes empresariais. Eles reclamam que estão suportando a maior carga do ajuste fiscal do governo, enquanto o Executivo não revisa suas próprias despesas.

Adicionalmente, nesta semana, a Câmara dos Deputados deu urgência a um projeto que classifica como homicídio o aborto realizado após 22 semanas de gestação, inclusive em casos de estupro, numa medida de confronto ao Supremo Tribunal Federal (STF) e representando outra derrota para o governo.

Agenda de revisão de gastos

Diante das crescentes pressões, Fernando Haddad e a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, defenderam em um discurso na quinta-feira, dia 13, a intensificação da agenda de revisão e redução de gastos, a qual ainda não foi implementada.

O apoio foi reiterado pelo presidente interino, Geraldo Alckmin, e pelo ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha. Neste sábado, alterando o tom anterior, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também reforçou a mensagem, declarando sua disposição para revisar os gastos governamentais, contanto que não afete negativamente os mais necessitados, especialmente nas áreas de educação e saúde.

Lula encontra-se na Itália para a reunião do G7, o grupo das nações mais desenvolvidas do mundo, composto por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido.

O presidente informou que pediu ao ministro da Casa Civil, Rui Costa, para convocar uma reunião do conselho fiscal na próxima semana para debater os gastos públicos. Costa faz parte da Junta de Execução Orçamentária (JEO), um órgão que também inclui Haddad e as ministras Simone Tebet (Planejamento) e Esther Dweck (Gestão).

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