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Pesquisa sobre Mídia Cívica Aponta Nova Direção para o Jornalismo

Um estudo da pesquisadora Nina Weingrill revela que organizações de mídia cívica estão desafiando conceitos tradicionais do jornalismo, focando na transformação social e no engajamento comunitário. Apresentado no Festival 3i, no Rio de Janeiro, o trabalho destaca a busca por impacto e a necessidade de novas formas de medir resultados.

Uma série de organizações que utiliza o jornalismo como ferramenta para transformação social está rompendo com conceitos tradicionais, segundo um estudo da pesquisadora Nina Weingrill, mestranda da Fundação Getulio Vargas (FGV) e integrante do International Center for Journalists (ICFJ). O estudo, apresentado durante o Festival 3i, no Rio de Janeiro, evidencia uma abordagem alinhada a uma teoria da mudança, diferente da postura de imparcialidade reivindicada pela mídia convencional.

Nina explica que essas organizações veem o jornalismo como um meio para alcançar resultados específicos, ao invés de um fim em si mesmo. “O jornalismo é uma força motriz para alcançar resultados específicos. Ele não é um fim de si mesmo. Ele é um instrumento para uma transformação. Essas organizações entendem que estão pautando a transformação em suas comunidades”, afirmou a pesquisadora.

Os resultados preliminares da pesquisa foram apresentados no Festival 3i, evento promovido pela Associação de Jornalismo Digital (Ajor), que reuniu especialistas em mesas de debate, workshops, oficinas e outras atividades. A proposta da pesquisa surgiu a partir do desconforto de Nina com a percepção de que o “jornalismo cidadão” era visto como algo menor em comparação ao jornalismo “profissional”. Para diferenciar, ela adota o termo “mídia cívica”.

O estudo entrevistou 18 líderes de organizações de mídia cívica nos Estados Unidos, entre julho e setembro de 2023, e constatou que o termo “impacto” foi mencionado 72 vezes, mais que “jornalismo” e atrás apenas de “comunidade”. “Estas organizações buscam transformação social. Informar não é suficiente; é necessário promover impacto e acompanhar essa transformação”, disse Nina.

Nina define a mídia cívica como “formas de comunicação que fortalecem os laços sociais dentro de uma comunidade ou criam um forte senso de engajamento cívico”. Essas organizações estimulam mudanças políticas e sociais, oferecem programas de treinamento em mídia comunitária e incentivam a ação cívica local.

As práticas da mídia cívica incluem estímulo à resolução de problemas comunitários, deliberação democrática, engajamento político, preenchimento de lacunas de informação e garantia de equidade. Além disso, adotam mídia participativa, realizando encontros abertos e criando conselhos consultivos.

A mensuração do impacto é um desafio. Muitas organizações estão insatisfeitas com os métodos atuais, mas nos EUA, organizações com orçamentos superiores a US$ 3 milhões possuem rastreadores de impacto, sugerindo uma demanda dos financiadores. No Brasil, poucas organizações têm sistemas de medição eficazes.

Durante o Festival 3i, Juliano Domingues, presidente da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom), apresentou dados sobre a evolução das pesquisas em comunicação no Brasil. Entre 1987 e 2022, foram concluídos 17.315 mestrados e 5.641 doutorados. Domingues destacou temas emergentes como tecnologias digitais, desinformação, comunicação em saúde pública e comunicação inclusiva. Em jornalismo, o interesse tem crescido em áreas como jornalismo de dados, sustentabilidade financeira, ética e engajamento público.

Carol Monteiro, diretora da Escola de Comunicação da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) e presidente da Ajor, apontou a falta de pesquisas abrangentes sobre valores e características da indústria do jornalismo digital. Ela destacou também a necessidade de mais estudos sobre segurança digital para jornalistas, o impacto da inteligência artificial no jornalismo, diversidade e mudanças legais que afetam o jornalismo digital.

Fonte: texto baseado em artigo orginalmente publicado em Agência Brasil

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