Um estudo recente revela que 59% dos brasileiros estão acima do peso, mas apenas 11% possuem diagnóstico médico. O IMC é uma medida relevante, mas há contradições na percepção de saúde entre os entrevistados.
Uma pesquisa realizada pelo Datafolha, encomendada pela Novo Nordisk, indica que 59% dos brasileiros estão acima do peso, sendo 24% obesos e 35% com sobrepeso. Mesmo assim, apenas 11% dos entrevistados possuem um diagnóstico médico de obesidade ou sobrepeso, o que aponta uma desconexão entre a percepção pessoal e a realidade médica.
O levantamento, que entrevistou 2.012 pessoas com uma média de 43 anos de idade, utilizou o IMC (Índice de Massa Corporal) como base para suas análises. Embora o IMC continue sendo um método de referência, especialistas consideram que ele pode ser insuficiente para avaliar de forma completa a saúde dos indivíduos.
Percepção de Saúde e Excesso de Peso
Apesar dos números elevados, 64% dos entrevistados acreditam que sua saúde é boa ou muito boa, e 51% afirmam não ter condições de saúde relacionadas ao excesso de peso, como pressão alta, problemas nos ossos, colesterol alto, entre outros. No entanto, entre os que estão acima do peso, 61% dizem ter boa saúde, e 42% não identificam doenças relacionadas ao excesso de peso.
A obesidade, definida pela OMS como o acúmulo excessivo de gordura corporal, está associada a mais de 200 condições, incluindo doenças graves como diabetes tipo 2, problemas cardiovasculares e alguns tipos de câncer. No entanto, o estigma em torno da obesidade ainda a coloca muitas vezes como um problema estético, o que dificulta o reconhecimento da condição como uma doença crônica.
Desafios e Conscientização
A endocrinologista Cynthia Valério, da Sbem (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia), ressalta que o estigma e a percepção da obesidade como uma questão estética, tanto pela população quanto por profissionais de saúde, são grandes desafios para a conscientização. Ela destaca que é essencial ver o excesso de peso como uma doença em si, com necessidade de diagnóstico e tratamento adequados.
O presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica em Alagoas, Luiz Guilherme de Almeida, alerta que o aumento de peso na população brasileira desde os anos 1980 está relacionado ao consumo crescente de carboidratos e ultraprocessados. Ele enfatiza que, sem uma mudança nos padrões atuais, quase metade da população brasileira será obesa nos próximos vinte anos, o que já tem impactos alarmantes na saúde pública, como o aumento de risco para doenças cardiovasculares, diabetes e câncer.
Atitudes e Tratamento
A pesquisa também mostra que 72% dos brasileiros estão satisfeitos com seu peso, mas 63% gostariam de mudá-lo — com 46% desejando perder peso e 17% querendo ganhar mais. Quando o excesso de peso começa a interferir na saúde ou nas atividades diárias, ele se torna uma preocupação maior para 57% e 45% dos entrevistados, respectivamente.
As principais alternativas consideradas para tratar o excesso de peso são a prática de atividade física (71%) e a mudança na dieta (56%). Apesar da crescente popularidade de medicamentos para perda de peso, como Ozempic e Mounjaro, apenas 4% dos brasileiros consideram essa opção, mesmo percentual dos que pensam em cirurgia bariátrica como solução.
Conclusão
A pesquisa do Datafolha destaca a necessidade urgente de maior conscientização sobre o excesso de peso e suas implicações na saúde. Embora uma parcela significativa da população esteja acima do peso, o diagnóstico e o tratamento ainda são limitados, reforçando a importância de políticas públicas e educativas para enfrentar essa crescente crise de saúde.