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Com Base em Descartes e Nietzsche, Filme Para Inteligentes vai desafiar seu cérebro

O filme questiona a busca humana pela imortalidade, revelando suas complexidades morais e existenciais.


Na busca por soluções rápidas e confortos imediatos, uma sociedade exausta frequentemente se vê atraída por alternativas simplistas e perigosas. A ideia de pagar qualquer preço para evitar a morte, mesmo que isso implique em uma vida sem propósito ou em uma morte desonrosa, torna-se tentadora, mas o custo dessa escolha pode ser imensurável.

O tema da morte é um elemento recorrente e atraente no cinema. Desde os primórdios da sétima arte, filmes têm explorado a possibilidade de vencer o fim da vida, seja de forma abrupta, dolorosa ou serena. Títulos como “Ghost — Do Outro Lado da Vida” (1990), “Os Outros” (2001), “O Mistério da Libélula” (2002) e “A Casa dos Espíritos” (1993) refletem sobre as diversas facetas da morte, evocando sentimentos de tristeza e reflexões sobre a justiça ou injustiça de dar uma nova chance a alguém querido. O medo da morte é um sentimento inevitável e universal.

Em “The Discovery” (2017), dirigido por Charlie McDowell, a narrativa se aprofunda na interseção entre vida e morte, explorando como a inteligência artificial pode influenciar essa dualidade. O Dr. Thomas Harbor, interpretado por Robert Redford, realiza experimentos que revelam uma intrigante descoberta sobre a morte. Em uma entrevista com a âncora de noticiário vivida por Mary Steenburgen, a conversa toma um rumo inesperado, chocando até mesmo o aparentemente imperturbável Harbor.

A construção do suspense em “The Discovery” é gradual e habilidosa, criando uma atmosfera envolta em mistério desde as primeiras cenas. A fotografia sombria de Sturla Brandth Grøvlen contribui para a estética do filme, transmitindo a impressão de que verdades ocultas estão sempre à espreita nas sombras. Essa escolha estilística desacelera a ação, criando uma tonalidade nebulosa que sugere algo profundo à espera de ser revelado.

O impacto da descoberta de Harbor não se restringe à ciência; ela desencadeia uma onda de suicídios em massa, com indivíduos que desejam testar a “cura” oferecida pelo cientista. Governos ao redor do mundo lutam para conter a situação, com alguns até incentivando a adoção do método como uma solução para os altos custos da saúde pública. Essa resposta revela a desesperança coletiva e a complexidade moral das ações de Harbor, cuja frieza científica contrasta com a vulnerabilidade em sua relação com seu filho, Will, interpretado por Jason Segel.

A chegada de Will ao laboratório remoto do pai marca o início de um relacionamento conflituoso que se intensifica ao longo do filme. Durante sua jornada, Will conhece Isla, vivida por Rooney Mara, uma mulher reservada que desenvolve um laço inesperado com ele. A dinâmica entre Will e seu irmão, Toby, interpretado por Jesse Plemons, adiciona tensão à trama, evidenciando as diferenças entre os dois.

O romance entre Will e Isla não se desenrola conforme esperado, permitindo que o foco permaneça nas questões filosóficas e existenciais que permeiam o enredo. A obra de McDowell reflete sobre a obsessão humana em controlar a vida e a morte, reafirmando que a ficção científica é o gênero que mais se presta a explorar essas questões.

“The Discovery” é uma análise profunda sobre as fronteiras entre vida, morte e ilusão. Os personagens parecem presos em suas próprias existências, confinados em uma ilha de memórias e sonhos. No final, a vida após a morte que Harbor busca revelar pode ser, na verdade, uma nova forma de prisão — uma extensão artificial de uma vida que, talvez, não devesse ser prolongada.

Filme: The Discovery
Direção: Charlie McDowell
Ano: 2017
Gênero: Ficção Científica/Romance
Nota: 9/10

Texto adaptado de Revista Bula e revisado pela nossa equipe de redação.

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