“Supervacas” brasileiras transformam pecuária global com genética de ponta e alcançam status milionário
No coração de Minas Gerais, no sudeste do Brasil, vacas da raça zebu estão protagonizando uma revolução silenciosa, mas poderosa, na indústria global da carne. Criadas com foco em resistência, produtividade e genética de elite, essas chamadas “supervacas” não apenas dominam os pastos brasileiros — elas estão moldando o futuro da pecuária em todo o mundo.
Segundo reportagem da revista The Economist, o zebu, originário da Índia e introduzido no Brasil no século XIX, tornou-se a espinha dorsal da pecuária nacional. Hoje, esses animais representam cerca de 80% do rebanho bovino brasileiro, que ultrapassa os 230 milhões de cabeças. A razão? Resistência ao calor, imunidade a parasitas e, mais recentemente, avanços impressionantes em engenharia genética e clonagem.
Desde os anos 1970, o Brasil investe em programas de modificação genética e melhoramento animal. Nos anos 1990, esses esforços se intensificaram, e os resultados são visíveis: o peso médio do zebu aumentou em 16% desde 1997. Além disso, a dieta das supervacas também foi ajustada com plantas geneticamente modificadas para aumentar ainda mais sua robustez.
O prestígio dessas vacas chega ao auge em eventos como a ExpoZebu, uma espécie de concurso de beleza bovina realizado anualmente em Minas Gerais. Mas os prêmios não se limitam a troféus: o verdadeiro valor está nos genes. Criadores de todo o mundo participam desses eventos para adquirir material genético dos animais mais premiados. Em vez de comprar a vaca, compram direitos sobre seus óvulos ou sêmen — e, em alguns casos, até fatias de propriedade.
Um exemplo emblemático é o da vaca Viatina-19 FIV Mara Movéis, considerada a mais valiosa do mundo: avaliada em US$ 4 milhões, ela possui três donos, um batalhão de veterinários e até segurança armada. Cada proprietário tem direito a coletar seus óvulos durante quatro meses por ano, repassando esse material genético a outros criadores e, posteriormente, a pecuaristas que desejam garantir um rebanho de elite.
A genética de elite também está sendo preservada por meio da clonagem, assegurando que linhagens vencedoras permaneçam intactas por gerações. Além do desempenho produtivo, as supervacas também representam um avanço na segurança alimentar. A Organização Mundial de Saúde Animal está prestes a declarar o Brasil livre da febre aftosa — um marco que amplia o mercado de exportação e reforça a confiança global na carne bovina brasileira.
A ascensão das supervacas brasileiras reforça o papel do país como líder na produção de carne, mas também sinaliza um futuro onde tecnologia, genética e sustentabilidade caminham lado a lado no campo.