Mangá apocalíptico faz turistas cancelarem viagens ao Japão: o impacto de uma profecia fictícia

Obra de 1999 ganhou notoriedade após “prever” tragédia real e agora alimenta temores sobre desastre em 2025, afetando o turismo asiático
O fenômeno do mangá profético
Lançado em 1999 por Ryo Tatsuki, o mangá “Watashi ga mita mirai” (“O Futuro que Eu Vi”) retrata sonhos proféticos da autora, incluindo um grande desastre em março de 2011 — mês em que o Japão sofreu um terremoto de magnitude 9.0 seguido de tsunami e crise nuclear em Fukushima. A coincidência elevou a obra ao status de culto, com mais de 960 mil cópias vendidas e traduções para chinês e tailandês . Em 2021, Tatsuki lançou uma edição revisada, prevendo um novo terremoto catastrófico para julho de 2025, descrito como uma ruptura submarina entre Japão e Filipinas, gerando ondas três vezes maiores que as de 2011 .
O efeito dominó no turismo asiático
A previsão de 2025, combinada com alertas de videntes e influenciadores místicos, gerou uma onda de cancelamentos. A agência de viagens WWPKG, de Hong Kong, relatou queda de 50% nas reservas durante o feriado da Páscoa, com destinos como Sendai e Tokushima sofrendo redução de voos pela Greater Bay Airlines . Turistas da China, Hong Kong, Tailândia e Vietnã lideraram os cancelamentos, muitos citando medo de “transtornos logísticos” como cancelamento de voos, mesmo reconhecendo a preparação japonesa para desastres .
Entre a ficção e a realidade sísmica
O Japão enfrenta um paradoxo: enquanto o mangá alimenta temores, o país registrou recordes turísticos, com 10,5 milhões de visitantes nos primeiros três meses de 2025 — 2,36 milhões da China continental (aumento de 78% em relação a 2024) . Autoridades reforçam que previsões exatas de terremotos são impossíveis, embora relatórios governamentais estimem 80% de chance de um grande tremor na Fossa de Nankai nos próximos 30 anos .
A resposta das autoridades
Para combater a desinformação, o governo japonês lançou alertas destacando a impossibilidade científica de prever terremotos com precisão . Yoshihiro Murai, governador de Miyagi (área afetada em 2011), criticou a disseminação de “rumores anticientíficos”, enquanto a autora Ryo Tatsuki pediu cautela: “As pessoas devem seguir orientações de especialistas, não meus sonhos” .
O poder das redes sociais e a cultura do medo
A viralização da hashtag #July2025Prediction no TikTok e Twitter amplificou o pânico, com vídeos especulativos atingindo milhões de visualizações. O caso expôs como narrativas ficcionais, quando associadas a contextos reais de vulnerabilidade (como a localização do Japão no Círculo de Fogo do Pacífico), podem influenciar decisões práticas .
Conclusão: entre o mito e os números
Apesar dos cancelamentos pontuais, o turismo japonês mantém crescimento robusto, impulsionado por visitantes de EUA, Canadá e Austrália. O episódio revela um dilema moderno: como equilibrar liberdade criativa, responsabilidade social e resiliência frente a desinformação — um desafio tanto para artistas quanto para governos .
Fonte de pesquisas: Reportagens de InfoMoney , Xataka , Terra , SIC Notícias , Aventuras na História , Portal Tela e Ambrosia .