Suco de Laranja Brasileiro na Mira de Guerra Comercial com os EUA
O suco de laranja brasileiro, um dos principais produtos de exportação do país, tornou-se alvo de uma nova escalada na tensão comercial entre Brasil e Estados Unidos. A imposição de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, anunciada pelo presidente americano Donald Trump, ameaça diretamente o setor citricultor, que depende fortemente do mercado norte-americano. A medida, que entra em vigor a partir de 1º de agosto de 2025, reflete uma estratégia de pressão econômica e política, gerando incertezas para produtores e exportadores brasileiros.
Impacto no Setor Citricultor
Os Estados Unidos são o principal destino do suco de laranja brasileiro, respondendo por 41,7% das exportações na safra 2024/25, equivalente a US$ 1,31 bilhão, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). A tarifa de 50% eleva o custo do produto, que já era taxado em US$ 415 por tonelada, para cerca de US$ 2.600 por tonelada – um aumento de 533% que pode inviabilizar as vendas ao mercado americano. Ibiapaba Netto, presidente-executivo da CitrusBR, associação que representa os exportadores de sucos cítricos, alerta que o setor não tem margem para absorver esse impacto, o que pode levar a uma perda significativa de mercado.
Dependência Americana e Escassez de Alternativas
A dependência dos EUA do suco de laranja brasileiro cresceu nos últimos anos devido a problemas na produção doméstica, especialmente na Flórida, que responde por 90% do suco americano. Furacões, temperaturas extremas e a doença greening, causada por uma bactéria que reduz a qualidade e a produtividade das laranjas, levaram a uma queda de 28% na safra 2024/25. Com a próxima colheita prevista para ser a menor desde 1986, o Brasil, responsável por cerca de 70% da produção mundial de suco de laranja, é essencial para suprir a demanda americana. Apesar disso, Netto destaca que o suco é uma commodity substituível, e os consumidores podem optar por outras bebidas se os preços subirem, impactando diretamente as exportações brasileiras.
Contexto Político da Medida
A tarifa imposta por Trump é vista como uma decisão de cunho político, não apenas econômico. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que a medida carece de racionalidade econômica e apontou a influência de questões geopolíticas, incluindo tensões relacionadas à família Bolsonaro. A carta enviada por Trump ao presidente Lula menciona ações do Supremo Tribunal Federal (STF) contra Jair Bolsonaro e empresas de tecnologia, sugerindo que a tarifa integra uma estratégia global de fortalecimento da extrema direita, conforme análise do cientista político Guilherme Casarões, da FGV-SP.
Possíveis Respostas do Brasil
Em resposta, o governo brasileiro, liderado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sinalizou que adotará medidas baseadas na Lei de Reciprocidade Econômica. Lula anunciou a formação de um grupo de empresários de setores estratégicos, como citricultura, aço e aviação, para avaliar estratégias de retaliação, que podem incluir a quebra de patentes americanas. Especialistas sugerem que o Brasil explore mercados alternativos, como Índia, Indonésia ou países do Mercosul, embora a CitrusBR alerte que a substituição do mercado americano é desafiadora devido ao volume e à falta de demanda equivalente em outros países.
Perspectivas para o Futuro
A safra brasileira de laranja 2025/26 promete ser 8% maior, com melhor qualidade devido à redução do greening e condições climáticas favoráveis. Contudo, a tarifa americana pode comprometer a recuperação dos estoques, que estão nos menores níveis em quatro décadas. A insegurança no setor é agravada pela possibilidade de os consumidores americanos substituírem o suco de laranja por outras bebidas, como alertado por produtores em cidades como Limeira, maior produtora mundial do produto. A solução para o impasse dependerá de negociações diplomáticas que equilibrem interesses comerciais e evitem prejuízos aos consumidores e produtores de ambos os países.
Traduzido e adaptado de G1 [XGR-XAI-13072025-2355-G3M]