Reforma de uma das penitenciárias mais icônicas dos EUA levanta debate sobre segurança, imigração e preservação histórica
O ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou neste domingo (4) a reabertura da histórica prisão de Alcatraz, localizada na Baía de São Francisco, Califórnia. Em publicação na rede Truth Social, Trump declarou ter instruído o Bureau of Prisons, em conjunto com o Departamento de Justiça, o FBI e o Departamento de Segurança Interna, a executar a retomada e ampliação da penitenciária, desativada em 1963.
Segundo Trump, o objetivo da medida é criar um local destinado ao encarceramento de “criminosos mais cruéis e violentos dos Estados Unidos”, como parte de uma política de endurecimento no combate à criminalidade. “A reabertura de Alcatraz servirá como um símbolo de Lei, Ordem e JUSTIÇA. Nós faremos a América grande novamente”, escreveu o republicano.
Trump também criticou juízes federais que, segundo ele, impedem a deportação de imigrantes ilegais com histórico criminal. “Estamos sendo reféns de criminosos e bandidos. Quando éramos uma nação mais séria, não hesitávamos em prender e manter longe os que causam miséria e sofrimento”, afirmou, em tom duro.
Símbolo do passado ganha nova função
Inaugurada em 1934, a prisão de Alcatraz ganhou notoriedade por abrigar figuras como Al Capone e George “Machine Gun” Kelly. Localizada em uma ilha cercada por águas geladas e com correntezas intensas, a estrutura era considerada virtualmente infugível — ainda que três detentos tenham supostamente conseguido escapar em 1962, episódio que inspirou o filme Fuga de Alcatraz, com Clint Eastwood.
Fechada oficialmente em 1963 por conta dos altos custos de operação e manutenção, a instalação foi transformada em atração turística administrada pelo Serviço Nacional de Parques. Hoje, Alcatraz é um dos pontos mais visitados de São Francisco, atraindo milhões de turistas todos os anos.
Com o anúncio de Trump, a prisão voltaria a funcionar como centro federal de detenção, agora com infraestrutura modernizada e reforçada. O diretor do Departamento de Prisões dos EUA, William K. Marshall III, declarou que sua agência “buscará todos os meios” para atender à ordem presidencial e já iniciou avaliações técnicas e logísticas.
Custos e críticas
Embora Trump não tenha revelado o valor previsto para a reforma, especialistas estimam que o investimento ultrapasse os US$ 100 milhões, considerando a necessidade de atualização das instalações para os padrões atuais de segurança máxima. Para efeito de comparação, a penitenciária ADX Florence, no Colorado — conhecida como a “Alcatraz das Montanhas Rochosas” — custou US$ 60 milhões em 1994 (cerca de US$ 130 milhões hoje, ajustados pela inflação).
A manutenção de um prisioneiro em unidades desse tipo pode ultrapassar US$ 200 mil por ano, o que reacende o debate sobre a viabilidade econômica da proposta.
Parlamentares democratas reagiram com ceticismo. A ex-presidente da Câmara, Nancy Pelosi, afirmou que a medida “parece mais um gesto político do que uma solução efetiva para a criminalidade” e criticou a tentativa de “reviver o autoritarismo penal em detrimento de políticas sociais e reabilitadoras”.
Organizações de defesa dos direitos civis também expressaram preocupação com o simbolismo da medida e o potencial retrocesso em práticas penais. “Reabrir Alcatraz é ressuscitar uma era de punição extrema sem tratar as causas reais da violência”, disse Brian K. Foster, porta-voz da ONG Civil Justice Now.
Impactos para o turismo e patrimônio
Outro ponto sensível da decisão é o impacto sobre o turismo e a preservação do patrimônio histórico. Como parque nacional, Alcatraz representa um capítulo importante da história dos Estados Unidos, tanto pelo passado carcerário quanto por sua transformação em espaço de memória.
A administração do parque ainda não se pronunciou oficialmente, mas há expectativa de forte resistência por parte de guias, historiadores e empresas do setor turístico da Califórnia.
Estrategicamente político
A reabertura de Alcatraz se insere em uma estratégia mais ampla de Trump para fortalecer sua base eleitoral em meio à campanha presidencial de 2024. Além das ações domésticas, o ex-presidente já sugeriu enviar imigrantes com antecedentes criminais para prisões em países aliados, como o Centro de Confinamento do Terrorismo (CECOT), em El Salvador, ampliando a cooperação internacional em matéria penal.
Apesar de controversa, a proposta evidencia a disposição de Trump em adotar medidas de impacto simbólico para reforçar sua retórica de “lei e ordem”, mesmo que isso implique reverter consensos estabelecidos sobre justiça criminal e patrimônio cultural.