O Impacto Ambiental da Expansão de Datacenters na América Latina

O crescimento dos datacenters na América Latina, liderado pelo Brasil, traz benefícios econômicos, mas levanta preocupações ambientais significativas.


O Impacto Ambiental da Expansão de Datacenters na América Latina

Os investimentos massivos das principais empresas de tecnologia em datacenters na América Latina prometem um mercado em rápida expansão e a criação de empregos bem remunerados. No entanto, esse crescimento acentuado também suscita preocupações ambientais, especialmente em relação ao consumo de energia e água.

Brasil na Liderança

Alison Tanako, gerente de consultoria e transações para a América Latina da CBRE, destaca que o Brasil está acompanhando a tendência global, com a expansão das operações em nuvem de gigantes como Google, Microsoft e Amazon. Entre 2013 e 2023, o número de datacenters no Brasil cresceu 628%, conforme o Brazil Data Center Report da JLL. Atualmente, o país abriga 135 datacenters, principalmente em São Paulo, e responde por 40% dos novos investimentos no setor na região.

Consumo de Energia

A principal dificuldade dos datacenters é o alto consumo de energia, com alguns centros operando com mais de 100 megawatts (MW), o que pode superar o consumo de uma pequena cidade. Isso torna o Brasil atraente para o setor, devido à sua matriz elétrica, que possui 84,25% de fontes renováveis, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

No entanto, as emissões de gases de efeito estufa aumentaram significativamente. O Google relatou um aumento de cerca de 50% desde 2019, em grande parte devido aos datacenters que sustentam seus desenvolvimentos de inteligência artificial (IA). A Microsoft também relatou um aumento de 33% em suas emissões desde 2020.

Consumo de Água

A água é essencial para a refrigeração dos equipamentos nos datacenters, e o consumo desse recurso aumentou 17% em 2023, segundo relatório do Google. Muitas instalações utilizam grandes volumes de água potável sem reutilização, resultando em desperdício significativo devido à evaporação.

Em regiões da América Latina como Chile e México, onde há estresse hídrico, o consumo de água pelos datacenters é um ponto crítico. No Chile, um tribunal ambiental reverteu parcialmente a licença de um datacenter do Google em Santiago, exigindo uma revisão dos impactos das mudanças climáticas no projeto.

Impactos Econômicos e Sociais

Embora a expansão dos datacenters prometa empregos bem remunerados, geralmente eles não empregam muitas pessoas locais, pois demandam mão de obra especializada, muitas vezes trazida de fora. Marina Otero Verzier, arquiteta e professora visitante da Universidade de Columbia, afirma que “grandes investimentos feitos por companhias como Google e Microsoft são vistos como um símbolo de status”. No entanto, ela também aponta que esses centros têm uma “relação íntima” com a extração de recursos, oferecendo poucas compensações em troca.

Tanako reconhece que a geração de empregos não é a maior contribuição dos datacenters, mas destaca outras vantagens, como a melhoria da conectividade e a elevação dos padrões tecnológicos das regiões onde são instalados.

Desafios e Soluções Sustentáveis

A conscientização sobre os impactos do consumo de dados é essencial. Verzier observa que “se deixamos a torneira aberta em casa, nos sentimos mal. Mas, se usamos muitos dados, não existe a mesma visão, apesar dos efeitos ambientais”. Ela também menciona que a utilização intensiva de energia para a mineração de Bitcoin foi amplamente criticada, mas o mesmo não ocorreu com a IA.

Tanako e Verzier concordam que há avanços no setor, como o reuso de água e o desenvolvimento de líquidos alternativos para refrigeração. No entanto, isso exige que as empresas deixem de lado opções mais baratas em prol de práticas mais sustentáveis.

A expansão dos datacenters na América Latina oferece um misto de oportunidades e desafios. É crucial que o crescimento econômico não ocorra às custas do meio ambiente, e que empresas e governos trabalhem juntos para promover a sustentabilidade no setor.

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